ÀS VÍTIMAS DE JOÃO DE DEUS — a união de mulheres deve ser exaltada
Por Nathália Oliveira*
Desde a denúncia contra o ator José Mayer, que desencadeou o movimento Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas, esta feminista que vos escreve bate na mesma tecla: a cada assediador que cai, é a união de mulheres que deve ser exaltada.
Por isso, quero escrever aqui às vítimas de João de Deus. Até agora, mais de 500 mulheres vieram à público. Então, para estas e outras que ainda podem estar em silêncio, eu escrevo este texto.
A palavra de uma mulher ainda vale pouco em nossa sociedade. Somos desacreditadas o tempo todo. Quando nos chamam de malucas, histéricas, exageradas, quando nos interrompem… Infelizmente, o que este caso prova é que só quando formos, no mínimo, 500 é que seremos ouvidas (por enquanto).
Nunca passei por nada parecido. Não consigo imaginar a dor de vocês. Mas me solidarizo com ela.
Me solidarizo porque sei o que é ter a minha palavra questionada, sei o que é ver “ídolos” ou pessoas que eu admirava caírem por terra ao descobrir condutas de assédio. Me solidarizo porque sou mulher e o machismo atinge a mim no mesmo ponto em que atingiu vocês. E mais do que me solidarizar, eu acredito em vocês.
Dito isto, gostaria de tentar buscar a luz no fim do túnel. Um ponto positivo em toda essa situação. Porque toda vez que uma denúncia de assédio vem à tona, a coragem de quem se pronunciou deve ser exaltada.
Zahira Lieneke foi a primeira a vir à público e o fez com muita coragem, depois de um longo tempo de reflexão e sofrimento. O que se seguiu a isso foi uma avalanche de denúncias que só seria possível hoje, neste tempo em que vivemos, com os avanços que o feminismo vem promovendo em nosso mundo.
O que quero dizer com tudo isso, talvez de uma forma desencontrada e emocionada, é que nossa luta está dando certo. Estamos provando que o feminismo e a união feminina por ele construída está dando resultados positivos. Máscaras estão caindo. Estamos caminhando em direção a um mundo em que estupradores NÃO SAIRÃO IMPUNES, em que vozes femininas SERÃO OUVIDAS e em que a Justiça começará a tomar atitudes dignas do nome que carrega.
Denunciar, reviver o momento de um assédio ou um estupro, deve ser um sofrimento indescritível. Não é fácil. E ninguém espera que seja. Mas é importante falar. É importante expor a verdade sobre os séculos de submissão e silêncio. É importante tirar essa carga de nossos ombros. Não somos as culpadas. Não devemos nos envergonhar. Culpado é o homem que nos assedia e o patriarcado que nos oprime e silencia.
Os tempos são outros. Assediadores não passarão.
Avante, mulheres! Estou com vocês.