A LUTA POR ABORTO LEGAL, SEGURO E GRATUITO TAMBÉM É SUA!

Por Nathália Oliveira*

Dentro da minha bolha carioca de classe média e branca, o entendimento sobre feminismo e direitos da mulher já aumentou muito.

Quase todas as mulheres com quem convivo se sentem donas de seus corpos, suas decisões, são mulheres empreendedoras, que não silenciam diante de assédio e que se sentem empoderadas pela nova onda feminista. Apesar disso, ainda vejo pouca movimentação de debate quando a pauta é a legalização do aborto. E acho que isso se deve a uma sensação de afastamento que muitas delas devem ter da gravidez indesejada, ou melhor, da gravidez indesejada em que a possibilidade de aborto seguro não estaria disponível, ao alcance financeiro.

E essa é uma das consequências da nossa desigualdade social: só se preocupa com o acesso ao aborto pelo Estado quem não pode pagar por aborto clandestino com segurança. Mas é preciso que sejamos capazes de olhar para além do nosso quintal, né, manas? Movidas pela empatia e pela sororidade, mas não só.

É preciso perceber que a lógica que entende que a escolha de levar uma gestação adiante não é da dona do corpo em que esta vida será gestada, é a mesma que coloca essa mulher como única responsável por essa mesma vida, que não foi feita unilateralmente. É a mesma lei que faz com que licenças maternidade e paternidade sejam obscenamente desiguais. É o mesmo sistema judicial que não pune um homem por abandonar o próprio filho e por, muitas vezes, sequer cumprir com a obrigação legal do pagamento de pensão alimentícia. É a mesma visão de sociedade que acha justo uma mulher ganhar menos para realizar o mesmo trabalho de um homem.

Percebem? Enquanto o aborto não for um direito neste país, todas nós seguiremos prisioneiras. Mesmo as que desejam ser mães: sem aborto legal, não existe parto que seja respeitado. O seu direito de ter um filho está totalmente conectado com o direito de outra mulher não ter um. Isso sem falar no falso argumento de quem se diz “pró-vida”, quando essa vida está dentro do corpo de uma mulher, mas defende maioridade penal, ignora o grande número de crianças abandonadas, ou procedimentos usados na medicina reprodutiva, por exemplo.

Enquanto o poder sobre nossos corpos ainda estiver nas mãos de homens, brancos, ricos e machistas, eles não serão verdadeiramente nossos.

A legalização do aborto é a luta fundamental para que deixemos de ser corpos colonizados que atendem aos interesses de todos, menos os nossos.

A legalização do aborto é a luta urgente que devemos travar juntas, independentemente de crença ou orientação política.

A legalização do aborto é a libertação de nossos ventres, de nossa sexualidade, e de todas as que virão depois de nós.

É pela vida das mulheres.

De todas as mulheres.

Em tempo: A legalização do aborto não é para que as mulheres DECIDAM abortar. É para garantir que as que DECIDIREM tenham o direito de fazê-lo com segurança, protegendo suas vidas. A decisão de abortar é algo prévio à legislação. É uma escolha de natureza pessoal.

Nathália Oliveira vive de contar histórias e é a criadora deste projeto. @anath.oliveira