ARLETE – O relato mais importante que já escrevi

Por Nathália Oliveira*

Arlete é a sexta filha de sete irmãos. De todos esses, a única a ter uma formação de segundo grau. Pagando a própria faculdade, se formou advogada. Mas se decepcionou com o ofício, mesmo depois de ter recebido uma cantada do jovem Chico Buarque, lá nos anos 70, em um Fórum do Rio de Janeiro. (Tá, essa parte do Chico não tem nada a ver com a profissão, mas é uma anedota dela que eu gosto de contar).

Das leis e da política a Arlete se mantém distante, mas verdade seja dita: nas últimas eleições ela foi de Haddad. Sempre foi uma mulher inteligente.

Arlete também é uma mulher de fé. Passou por algumas religiões, mas estudou o Espiritismo com mais afinco e acredita que não passamos nesse mundo por acaso. Viemos para aprender, evoluir e, se for necessário, retornar muitas vezes.

Sensibilidade artística a Arlete tem de sobra. Chora que nem criança quando ouve um tango de Gardel ou uma música italiana das antigas. Também tem um apego especial pela música sertaneja de raiz.

Arlete ama a natureza, quer adotar todos os cachorros do mundo e acha que todos os animais deveriam ser vegetarianos, incluindo os humanos.
Outra coisa que a Arlete ama é um cafezinho no fim da tarde, com bolo de laranja e um pão quentinho. Esse é o melhor momento do seu dia e ela se sente grata por isso toda vez.

Arlete também é minha mãe. E esse, apesar de ser seu aspecto mais especial para mim, não define quem ela é. Sua existência vai muito além disso, transborda, é infinita. Não cabe em mim, nem em minha irmã. É muito mais.

Eu gostaria que esse relato tivesse sido escrito enquanto a Arlete estava aqui, para que eu lesse e ela chorasse de emoção. Ela sempre se emociona com as minhas criações, como podemos ver nessa foto que está no alto do texto. Foi o dia da exibição do meu primeiro filme e ela chorou. Achou lindo e ficou orgulhosa de mim.

Eu falo da Arlete no presente porque agora, mesmo que eu não possa mais vê-la ou abraçá-la quando eu faço nesta foto, eu sei que ela pode, porque ela está em mim. Eu falo da minha mãe no presente porque eu só sou porque ela é e não existe Nathália sem Arlete.

Mãe, obrigada por ser tanto, por ser tudo. Você é a mulher mais poderosa que eu já conheci e agora a sua história está registrada aqui. Espero que goste. Te amo.

Nathália Oliveira vive de contar histórias e é a criadora deste projeto.