É SOBRE VALOR!

Por Eliane Martins*

O ano é 2020. O cenário é um país devastado por uma pandemia, liderado por um presidente machista, preconceituoso, retrógrado, entre tantas outras definições. Consequência: o feminicídio bate números alarmantes diariamente. É fato que ser mulher neste país está cada dia mais difícil. Mas, em meio a todo esse caos, uma notícia aquece um pouco nossos corações.

Este mesmo país descrito acima, o Brasil, deu um passo importante no caminho da igualdade salarial entre os homens e as mulheres dos gramados. A Comissão Brasileira de Futebol (CBF) anunciou semana passada que irá igualar a quantia paga por diárias e premiações para atletas dos sexos masculino e feminino que compõem as seleções nacionais de futebol – durante décadas, as mulheres receberam metade do que era pago aos homens. A decisão vale para períodos de preparação e jogos, incluindo competições importantes, como as Olimpíadas. Porém, a mesma regra não se aplica à Copa do Mundo, que atenderá às normas da FIFA.

Mesmo assim, o momento é de comemoração. “Pequenas grandes” vitórias, lembra? Diante de tudo de ruim que nos tornamos como país, fomos um dos pioneiros na justa equiparação financeira em um ambiente extremamente masculinizado, o futebol. A defasagem salarial entre os jogadores e as jogadoras faz parte da pauta fixa de inúmeras seleções ao redor do mundo, inclusive do time tetracampeão mundial e olímpico, os Estados Unidos. Lá, as atletas brigam na justiça para que sejam remuneradas de acordo com que é pago aos homens. Melhor, para que sejam valorizadas tal como eles.

A discussão é exatamente essa: valor. Óbvio que a questão financeira importa, muitas atletas vivem em condições precárias, algumas precisam se desdobrar em outras profissões, pois só o esporte não as mantém. Isso é indiscutível. Mas, além dessa razão, a mulher, não só no campo de futebol, precisa ter seus direitos assegurados. A igualdade de gênero é garantida por lei, está na Constituição Federal. Remunerar alguém de acordo com o seu sexo é discriminação, é preconceito. Mesma função, mesmo salário.

Por aqui, nesse país que o dia a dia mais parece roteiro de ficção científica, seguimos firmes na luta. Sabendo que para nós, mulheres, o caminho sempre será mais espinhoso, mas certas de que nossos pés sabem exatamente onde querem chegar. O futuro é feminino, independente daqueles que querem nos frear.

Eliane é jornalista e camisa 9.