EU MUDEI — carta aberta à família e amigos de infância

Por Nathália Oliveira*

Gente, eu mudei.

E eu sei que vocês estão cientes porque têm comentado isso comigo ou pelas minhas costas. Eu sei.

Tive alguns momentos de dúvida até finalmente verbalizar isso com a certeza de que mudei e de que isso é bom.

Foi uma mudança profunda, íntima, e que, como tudo em mim, salta aos olhos de qualquer um que esbarre comigo por aí. E agora que está bem claro internamente, quis explicar para vocês as origens e características da minha transformação.

Antes disso, queria registrar que não entendo a surpresa diante deste fato. Fui eu mesma quem provocou essa mudança, e o fiz com o aval e o testemunho de todos vocês.

Em um intervalo de pouco mais de um ano, eu me demiti do emprego estável, perdi o meu pai, mudei de país 3 vezes, de casa , 5 vezes, fiz uma pós-graduação na Europa e conheci muita gente. O ser humano que permanece o mesmo diante de tanta coisa só pode ser feito de plástico. Tudo isso me atravessou de uma vez só e eu fui me metamorfoseando lá no Velho Continente para agora sair do meu casulo transformada em outra coisa. Uma coisa diferente, porém, com asas próprias.

Todo esse raciocínio me leva a pensar que o espanto e até a desaprovação de vocês não é em relação ao fato de eu ter mudado, mas sim de que vocês não gostam ou ainda não entendem essa minha nova versão.

Mas independentemente de qual tenha sido o detonador, eu me transformei em alguém de olhos abertos. Estou atenta à mim, aos meus desejos e aos papeis que ocupo dentro dessa sociedade. Decidi tomar a responsabilidade que me cabe enquanto mulher em um mundo tão cheio de desigualdades. Assumi um compromisso com as pautas das minorias, especialmente o feminismo, e agora ele faz parte de quem eu sou.

Esse compromisso atravessa as minhas palavras, o meu tom de voz, os gestos do meu corpo e o meu paladar. Me atravessa inteira e, por enquanto, esta é a minha nova maneira de estar no mundo: me colocando não só como parte dele, mas como agente ativo de suas transformações.

O mundo está se transformando e eu resolvi assumir a responsabilidade pela minha parte.
E farei isso do meu jeito. Pode parecer agressivo, teimoso, repetitivo. Mas é o jeito que eu sei. Quando vocês estiverem lutando contra um sistema que violenta e mata tantas pessoas, me contem como é fazer isso sem se alterar.

Vocês têm todo o direito de não querer fazer parte da minha luta, de não gostar e até me questionar, desde que seja com afeto. Pode ser que sintam falta da Nathália de ontem, mas foi ela mesma quem escolheu sair de cena e abrir caminho para a Nathália que escreve esta carta.

E afirmo sem medo: estou muito feliz com essa escolha. E, vamos combinar, quem terá que viver 24 horas por dia, 7 dias por semana com essa nova versão sou eu, né? Então essa mudança é uma decisão monocrática e estará em vigor até a segunda ordem.

Críticas, sugestões e elogios podem ser feitos diretamente à mim ou, em bom português, IN MY FACE, PLEASE.

grata, Nathália.

Nathália Oliveira vive de contar histórias e é a criadora deste projeto.
@nattholiveira