LOGO EU?

Por Melissa Granado*

Quantas conquistas uma mulher precisa colecionar para se ver livre da eterna luta por aprovação, seja alheia ou de si mesma?

Às vezes eu ainda acredito na mentira de que minha vida é uma eterna luta por aprovação. E isso começou lá atrás, quando “reprovação” era a palavra que eu lia nos boletins finais de quase todas as matérias da escola, exceto Educação Física e Artes, mas essas “não importam muito, né?”. Todo ano era o mesmo diagnóstico: “se você continuar assim, nunca vai conseguir nada na vida.”

Aos 14 anos, fiz uma bateria de exames que me julgaram “incapaz de aprender sozinha” e comecei a tomar remédios que me ajudariam a prestar mais atenção. Aparentemente, o que prendia a minha atenção não era útil. Eu deveria prestar atenção à matemática, à química, às disciplinas relevantes que supostamente levam uma criança a “ser alguém na vida”, não é mesmo?

Na hora de escolher a faculdade, escolhi a Moda. E tive grande apoio: “A Melissa nunca vai passar para Direito ou Medicina mesmo, então Moda já está de bom tamanho.” Mas a verdade é que eu nunca tentaria entrar em outro curso, Moda sempre foi o meu sonho. Acho que as pessoas é que não estavam ~prestando muita atenção~, sabe?

Passei para o melhor curso de Moda do Brasil. Elogios? “Ah, é Moda, né?” E eu mais uma vez caio na mentira de que preciso provar para os outros e para mim que “modané” tem um valor pessoal e social.

Formada, comecei a trabalhar em um dos maiores grupos de moda do país. Aos 25 anos, larguei toda essa estrutura e estabilidade para abrir uma marca sustentável. Me tornei a primeira brasileira a produzir biquinis de tecido com resíduos recuperados dos oceanos. Fui entrevistada pela Vogue, Glamour, O Globo, recebi convites para dar palestras…e mesmo depois disso tudo, ainda tenho tempo de cair naquela velha mentira: a de que não sou capaz. A famosa síndrome de impostora. Me pergunto se esse convite para uma próxima palestra veio mesmo para a pessoa certa, se não erraram o e-mail. Logo eu, aquela que “se continuasse assim não ia conseguir nada na vida”?

Este texto veio à tona por causa de um novo convite de palestra, dessa vez, em uma das melhores universidades da América Latina. Logo eu, aquela que não se encaixava no papel de aluna, sendo recebida de braços abertos para compartilhar conhecimento num espaço de ensino? Parece ironia do destino ou um recado bem claro do universo para eu parar com essa mania de aprovação: “tá aprovada, Melissa, aqui ó, vai lá na universidade e fala o que você sabe!”.

Talvez este texto tenha vindo à tona para que eu possa dizer à outras como eu que nós somos sim capazes. Que independentemente do que os outros digam, ou de certos “diagnósticos” que a vida te dá, quem te autoriza a levar seu sonho adiante é você, e apenas você. Que não existe uma única forma para aprender ou ensinar e que cada uma deve ter a oportunidade de descobrir a sua forma.

Não posso garantir que nunca mais vou cair nessa mentira de sempre, e talvez este texto esteja aqui também para me lembrar disso.

Melissa Granado é criadora da marca Levh e acredita que pequenas atitudes podem mudar o mundo.