A MISOGINIA PODE SER A RUÍNA DE BOLSONARO

Por Nathália Oliveira*

No dia 5 de agosto, o Ministério Público de São Paulo (MPF-SP) levou às instâncias jurídicas um processo por danos morais contra a União que tem como alvo as declarações machistas feitas pelo Presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus ministros como Damares Alves, uma das duas representantes femininas no quadro ministerial bolsonarista.

Esta matéria do El País dá mais detalhes sobre a ação judicial. Como provas estão declarações do Presidente como esta: “O Brasil não pode ser o paraíso do turismo gay. Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora não pode ficar conhecido como o paraíso do mundo gay aqui dentro”, e também uma ação concreta do atual Ministro da Saúde, General Pazuello, que em junho exonerou funcionários da pasta por assinarem uma nota técnica sobre o atendimento à saúde da mulher durante a pandemia. Segundo matéria, “a nota recomendava a orientação e acesso a métodos contraceptivos, falava em reduzir a gravidez não planejada e sobre a violência contra a mulher. O documento tratava da interrupção da gravidez nos termos previstos pela legislação brasileira, mas o presidente encarou como uma proposta de legalização do aborto e disse que pessoas de dentro do Ministério queriam derrubá-lo. ‘No que depender de mim não terá aborto’, disse Bolsonaro na época.”

Não tenho competência para analisar se esta ação será capaz de balançar algo da estrutura deste governo, mas ela serve para nos chamar a atenção para algo que durante a campanha eleitoral de 2018 estava bem evidente: existe uma parcela significativa da população que é frequentemente hostilizada por Bolsonaro e seus subordinados e que já vem, desde 2015, ganhando consciência de sua condição de classe: as mulheres brasileiras.

É claro que, como escreveu Simone de Beauvoir, o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entres os próprios oprimidos. E, portanto, há mulheres que ainda defendem o sistema que as oprime e a discussão sobre os porquês disto é longa, mas é possível afirmar que muitas de nós já estão convencidas de que o feminismo existe e luta para igualar nossos direitos e proteger nossas vidas, e esse é um entendimento valioso para a queda de um Brasil retrógrado representado por essa figura abominável que é Jair Bolsonaro.

Mais de 100 mil mortes causadas por omissão e mau uso do orçamento da saúde, evidências incontestáveis tanto de ligação com a milícia, quanto de clara intenção golpista de intervir em outros poderes da República, dentre outros descalabros de arrepiar a espinha de qualquer cidadão consciente, parece não ser suficientemente forte para inviabilizar de vez a existência deste genocida na política brasileira. Mas tem uma coisa que eu acredito que pode. A união feminina no combate a um inimigo comum, que teve a oportunidade de mostrar na prática o que seu discurso evidenciou desde sempre: o desprezo contra as mulheres.

Evidenciar as falas e as políticas misóginas do governo Bolsonaro é, a meu ver, o ativo mais importante para evitar que algo tão escancaradamente danoso para o país volte a acontecer em 2022.

Você, mulher, é capaz de eleger um homem que te abomina enquanto ser humano?

Nathália Oliveira vive de contar histórias e é a criadora deste projeto. @anath.oliveira