Os frutos da insatisfação feminina – Big Little Lies
Por Nathália Oliveira*
Ganhadora de muitos Emmys em 2017, a minissérie da HBO, Big Little Lies, é uma potência de texto, atuações e direção. Ela é também fruto da insatisfação de consagradas atrizes de Hollywood que não recebiam propostas para personagens que elas considerassem interessantes. E talvez por isso, a série seja essa grande potência.
Eu acredito na indignação como um dos combustíveis mais eficientes para que grandes revoluções se manifestem. Isso não quer dizer que os frutos dessa indignação sejam sempre violentos ou destrutivos. Isso quer dizer que o que nasce a partir de uma insatisfação latente e prolongada, se administrado com inteligência e boas parcerias, pode ser uma verdadeira quebra de paradigma. E é isso que Big Little Lies é: uma quebra de paradigma na forma de fazer televisão e no seu conteúdo.
Começou com Reese Witherspoon, recém-premiada com o Oscar de Melhor Atriz por Johnny e June (2005), se dando conta de que não estava satisfeita com as personagens que estava sendo / era convidada a interpretar. Nenhuma era realmente interessante, dona de sua história. Foi aí que ela resolveu abrir sua própria produtora (ao lado da produtora Bruna Papandrea) para comprar direitos de livros escritos por mulheres e que trouxessem mulheres verdadeiramente protagonistas de suas histórias.
Antes de Big Little Lies, vieram os longas-metragens Garota Exemplar (2014) e Livre (2014), que renderam indicações ao Oscar de Melhor Atriz para as duas protagonistas no mesmo ano, Rosamund Pike e a própria Witherspoon, respectivamente.
A insatisfação foi o motor de Witherspoon até personagens e histórias que ela realmente acreditasse, e também foi o ponto de encontro dela com colegas de cena como Nicole Kidman, que está absolutamente brilhante como a advogada Celeste, em Big Little Lies.
Coincidentemente (existem coincidências?), a trama da minissérie também fala dessa insatisfação latente e da união de mulheres como um refúgio e um caminho. A união feminina como resposta e como alternativa para um mundo que insiste em nos negar protagonismo. Mas assim como as Cinco de Monterrey, acho que chegamos a um ponto em que já não se trata de provar para os outros o que realmente aconteceu, ou apontar quem foi que empurrou o patriarcado pelas escadas. Se trata de entender que se nós estivermos juntas, estaremos protegidas.