#OUTUBROROSA – por uma conscientização da classe médica

Por Nathália Oliveira*

Chegamos em outubro e com ele a grande campanha de conscientização pela prevenção do câncer de mama em mulheres. É quase uma unanimidade. Todo mundo entende que o câncer é uma doença grave e que o de mama é uma das maiores causas de morte entre as mulheres. E esse tema aglutina dois tópicos sobre os quais eu tenho muita vontade de falar: o câncer e as mamas. Neste texto, vou falar sobre o câncer e no próximo, sobre as mamas.

Meu pai e minha mãe morreram de câncer. Ele em 2017, ela há dois meses. O dela, começou na mama. Atravessar dois tratamentos de câncer seguidos, em pessoas que são os pilares da minha existência me revelou uma série de coisas que não caberão neste texto. Por isso, como é #outubrorosa, vou me ater ao processo de doença de minha mãe.

Pouco se sabe sobre esta doença, o câncer. De onde vem? Qual a melhor forma de tratar? Como fazer morrer uma parte do seu corpo que está te matando, sem matar a parte do seu corpo que te deixa viva? São muitas as perguntas para as quais a medicina ainda não tem respostas. Mas de uma coisa a medicina sabe: uma vez diagnosticada, a paciente está nas mãos do sistema de saúde. E isso é uma armadilha.

Perdi a conta de quantas vezes ouvi de profissionais da saúde (particular, já que fazemos parte de uma camada privilegiada que tem acesso à plano): “estamos fazendo de tudo para ajudar sua mãe”. E só depois de ouvir essa frase muitas vezes comecei a questionar o sentido dela: ajudar a minha mãe? Não. Não precisamos que você nos ajude. Precisamos que você faça o seu trabalho. Respondi isso para uma das médicas, certa vez. Sim, porque são muitos os médicos que atendem uma paciente com câncer de mama. O oncologista (minha mãe teve 2), os clínicos que auxiliam o oncologista, o cirurgião, o mastologista… e isso poderia ser bom, se não fosse caótico.

Cada um desses profissionais tem uma visão sobre o caso e, portanto, cada um diz uma coisa diferente. Nós, tanto a paciente quanto os familiares, já fragilizados, terminamos completamente perdidos. Quando a pessoa fica internada, a coisa piora: temos que encarar mais clínicos de rotina que não fazem ideia do estado de saúde da paciente e muitos parecem nem saber como tratar as pessoas com educação. É bem humilhante. Mas, como eu disse no início, o diagnóstico de câncer te coloca em uma armadilha, dependente e presa a essas pessoas.

Como toda generalização é burra, convém que eu deixe claro que não são todos os médicos, enfermeiras, técnicos que te tratam como se estivessem te fazendo um favor. Mas falo sim de uma boa parte deles e falo de um sistema que se sustenta por essa relação de superioridade e dependência do médico/enfermeiro/técnico sobre o paciente e familiares.

Por isso, neste Outubro Rosa especialmente delicado para mim, venho manifestar o desejo de irmos além da conscientização das mulheres. Venho pedir uma conscientização de toda a classe de profissionais da saúde sobre o tratamento para com pacientes e familiares de pacientes diagnosticados com câncer.

Senhor médico, você não é o dono da verdade, e o fato de você trabalhar com a saúde das pessoas não te torna melhor do que ninguém. Seu trabalho, quando ligado a operadoras de plano de saúde ou ao Estado, não é caridade. É apenas o seu trabalho. Exerça-o com afeto e dignidade.

Senhoras operadoras de planos de saúde, vocês são uma máfia muito, mas muito suja. É um atraso na evolução humana que as pessoas precisem sustentar instituições como vocês para terem a garantia de uma assistência médica justa.

Talvez se parte do esforço de conscientização de mulheres do #outubrorosa fosse destinado a questionar a classe médica e o sistema de saúde, o número de traumas causados pelo câncer de mama e outras doenças fosse menor. Este texto é uma tentativa. Quem sabe um dia a gente chega lá?

Nathália Oliveira vive de contar histórias e é a criadora deste projeto.