Por mais mulheres como as de Long Island

Por Isis Reis*

Faz algum tempo desde a primeira vez que entrei em contato com os poemas de Olivia Gatwood. Numa página de Facebook chamada “Slam find”, tive a oportunidade de descobrir alguns artistas da cena de poesia slam americana, e Olivia estava entre eles.

Poetry slam, segundo consulto na Wikipedia, é “uma competição em que poetas leem ou recitam um trabalho original (ou, mais raramente, de outros). Estas performances são, em seguida, julgadas por membros selecionados da plateia ou então por uma comissão de jurados”.

A poesia slam apresentada nessas competições, por sua vez, é considerada um tipo de poesia que expressa uma história pessoal e/ou luta de alguém, geralmente em um estilo intensamente emocional.

Foi pelo caráter confessional desse tipo de poesia que me identifiquei imediatamente com os versos de Gatwood. Em suas perfomances, ela expressa, com certa raiva e muita precisão, situações e sentimentos muito familiares à maioria das mulheres.

Em “Ode to my bitch face”, ela explica por que não se sente na obrigação de sorrir o tempo todo num mundo completamente hostil à sua presença:

“Alternate universe in which I am unfazed by the men who do not love me” pinta um cenário onde seu eu-lírico não dá tanto peso ao julgamento ou ao amor masculinos:

Mas é em “Ode to the women on Long Island” que sentimos sua veia feminista falar mais alto. Com uma verve irônica, Gatwood humaniza figuras que poderiam ser facilmente consideradas caricaturas e aponta que por baixo das aparentes picuinhas que poderiam revelar uma falta de sororidade jaz o feminismo verdadeiro, aquele que não faz concessões para abusadores:

“As mulheres em Long Island deixam suas filhas darem festas no porão enquanto assistem ao circuito doméstico no andar de cima e mantêm um taco perto do sofá no caso de alguma delas ser drogada, mesmo se for seu próprio filho quem as drogou.

As mulheres em Long Island não vão ficar surpresas se qualquer homem for culpado, mesmo seus filhos, que afinal têm as mãos e sangue de seus maridos. E semana passada, quando uma garota foi assassinada enquanto corria no Queens, as mulheres em Long Island não ficaram surpresas, mas ficaram furiosas. Elas não ligaram para avisar suas filhas, elas ligaram para seus filhos, sentaram-nos na mesa da cozinha e disseram ‘se você algum dia, e eu digo qualquer dia, fizer uma mulher se sentir desconfortável, eu vou te levar até a delicatessen e colocar suas mãos no fatiador de frios. Pensa que não vou? Tá me ouvindo? Eu vou te tornar um herói. Com maionese, e tomates, e molho, e cebolas’.

Eu quero escrever um poema para as mulheres em Long Island, a quem, quando mostro a faca que carrego na minha bolsa, dizem que ela não é grande o suficiente; que são garçonetes e corretoras de imóveis e massagistas e assistentes sociais e donas de casa, e me dizem que gostariam de ter sido artistas, ‘mas a vida vem rápido, sabe? Num minuto você tá tomando lições de datilografia para seu novo emprego como secretária no World Trade Center e no próximo quase acabou. A vida, quero dizer. Mas eu batalhei muito por ela, e você também vai. Eu posso dizer pela maneira que você anda. MAIS UMA COISA: QUANDO TE CHAMAREM DE PUTA, DIGA ‘OBRIGADA. MUITO OBRIGADA’”.

Por mais mulheres como as de Long Island.

Isis Reis é formada em Publicidade, e colabora como webdesigner para o Projeto Mulheres Poderosas.