VOCÊ É FORTE MESMO, HEIN!
Por Catarine Diniz*
Eu não gostava de menstruar e também não conhecia quem gostasse. Até que um dia resolvi tocar na minha menstruação. Quando vi o tecido descamado no absorvente, fiquei curiosa. Uma mistura de curiosidade com nojo. Apertei o tecido ensanguentado para ver como era. Lavei as mãos umas 10 vezes depois disso. Cheguei a contar para minha melhor amiga e ela só disse que eu era “uma sem noção”. E aí eu comecei a questionar o porquê de sentirmos nojo de algo que não tem nada de sujo. Comecei a pensar que a menstruação me purificava. Como se ela tirasse tudo que não me cabe mais.
Durante muito tempo nós, mulheres, fomos condicionadas a tratar nosso corpo como desconhecido. Nunca fomos incentivadas a conhecê-lo, entendê-lo e, principalmente, amá-lo. Se alguém ousar dizer a palavra vagina é quase como se você dissesse que cometeu um crime de ódio. Vão te olhar torto ou tentar te calar. Aliás, está aí uma coisa que em eu nunca fui boa: me calar.
Eu cresci, meu corpo cresceu e as descobertas começaram a chegar. Comecei a entender como funcionava a vagina, a vulva, os seios… E comecei a aceitar as mudanças. Minhas amigas odiavam falar sobre suas vaginas, mas eu achava a coisa mais interessante do mundo. Quando chegou a minha primeira menstruação, que foi motivo de euforia para minha família, meu pai me trouxe flores com lágrimas nos olhos e minha avó contou para todas as irmãs. Não nego: me senti feliz por estar crescendo. Mas eu não queria só flores e chororô! Eu queria informação. Tudo o que eu sabia sobre menstruação vinha das reclamações de cólica da minha mãe, ou da escola.
Minha relação com minha menstruação era basicamente o nojo que fui ensinada a sentir. Quantas vezes você já ouviu que o seu sangue menstrual é sujo? Fedido? Nojento? Eu escutei isso tantas vezes, de tantas pessoas. “Que mal eu fiz a Deus para merecer isso?”, eu pensava. A pior parte para mim eram as cólicas e os absorventes. Todo aquele algodão deixava minha vagina abafada, colava na pele e uma alergia que me dá vermelhidão só de lembrar.
Com o passar dos anos fui mudando a cabeça e pesquisando sobre coisas que antes eu rejeitava totalmente. Pesquisei sobre o coletor menstrual e senti vontade de testar, não sem antes repetir o velho preconceito: “lavar aquele copinho sujo de sangue? Nem pensar!”. Mas depois de uma conversa com minha ginecologista, mudei de ideia.
“Essa é coisa mais estranha que já vi!”, meu pai disse. “Você não vai conseguir encaixar isso direito dentro de você e vai vazar tudo”, minha mãe dizia. Me muni do argumento de que já que estou de quarentena, se vazar, vai vazar em casa. E lá fui eu colocar o negócio. Sentei no chão do banheiro, peguei o espelho e vi minha vagina de formas jamais vistas antes por mim. Para minha surpresa, o coletor entrou. Eu achava que minha vagina iria contrair, que o coletor não conseguiria entrar… mas entrou!
Eu me senti tão poderosa! Me senti incrivelmente forte. Contei para o meu namorado, para o meu irmão, para as minhas amigas e eles comemoraram comigo. Era como uma vitória na minha vida. E na hora de tirar? Me senti duas vezes mais forte. Puxando o coletor, fazendo força pélvica, sentindo o coletor descer… Eu me senti conectada comigo mesma. Olhei para minha vulva e para a abertura do canal vaginal pelo espelho e pensei: você é forte mesmo, hein!
A aproximação com a minha menstruação e minha vagina foi a melhor coisa que me aconteceu nessa quarentena. Sinto que meu corpo é um espaço a ser desbravado por mim, de uma forma leve e consciente. Definitivamente esse tal de autoconhecimento vem de dentro da gente. Seja da mente, seja da vagina.