Kel

“Por que toda feminista tem a mesma cara de maconheira suja? Fico boba com isso.”

“Todos nós já conhecemos os resultados de uma peça formada por esquerdistas! Fezes, urina e quebra-quebra de santos.”*

Foi esse tipo de comentário que a Kel teve que ler quando a sua peça “Incômodos” chegou à 3ª temporada no Rio de Janeiro. Em número muito maior foram os elogios e os relatos impactados de espectadores que de fato assistiram à instalação cênica. Esse é o termo que a própria Kel prefere usar para falar da sua obra, que tem origem em uma experiência pessoal e traumática que a diretora enfrentou alguns anos antes.

“Incômodos” é um espetáculo itinerante que usa os 5 sentidos para trazer ao público o desconforto e a violência inerentes à condição feminina na sociedade machista.

A ideia surgiu em 2014 e durante 3 anos a equipe (100% feminina) tentou viabilizar a peça via editais. Sem sucesso, em 2017 elas decidiram que o espetáculo teria que existir de qualquer maneira. E depois de muita correria, reuniões semanais e uma chamada aberta que reuniu mais de 40 mulheres artistas, “Incômodos” nasceu.

Para a Kel, a peça é uma conquista em várias esferas de sua vida. Ela surgiu como um processo de cura após um assédio sofrido no ambiente familiar. Ao mesmo tempo, foi um grande desafio profissional e um processo de aprendizado sobre feminismo a partir do encontro e da convivência com outras mulheres artistas. A Kel transformou a dor em arte e a arte em diálogo.

Kel é uma feminista que veio para incomodar.

*Comentários publicados no post do jornal O Globo com a matéria sobre “Incômodos”.