Livia

Há cerca de um ano, Livia iniciou um processo de redescoberta da profissão e de seu posicionamento político. É formada em Comunicação Social, mas hoje exerce a atividade que realiza desde muito nova: cozinhar.

Dentro de casa, a cozinha sempre foi um espaço de experimentação e liberdade. Gostava de testar novas receitas, experimentar sabores diferentes e colocar a mão na massa (literalmente).

Também foi em casa que a ensinaram que comida é coisa séria e política. Aprendeu a comer de tudo e a ver o desperdício como um problema social grave que afeta a todos nós. Hoje, ela carrega esses ensinamentos e se aproxima de projetos que visam tratar a comida como um instrumento poderoso de transformação.

Sua passagem pelo MasterChef Brasil foi fundamental para a sua consolidação profissional, mas também uma prova de fogo para as suas inseguranças e preocupações com o olhar do outro.

A internet foi um território duro de encarar. Recebeu comentários ofensivos, machistas e, no início, isso machucava. Com o tempo, ela entendeu que nenhuma crítica vai diminuir suas conquistas, e a certeza de que está na profissão certa é cada vez maior.

E é essa certeza que a leva a questionar o espaço limitado que a mulher tem dentro das cozinhas profissionais. De fato, é um ambiente machista, e perceber isso foi sua primeira desconstrução. Nossa sociedade patriarcal nos leva a crer que no ambiente doméstico, a mulher deve dominar a cozinha, mas quando se trata do profissional, só o homem é capaz de gerenciar.

A Livia me pergunta: “Quais grandes chefs mulheres você conhece?”, “Quem são os grandes nomes conhecidos da cozinha brasileira?”. Não sabemos dizer muitos. Isso é apenas um dos sintomas da desvalorização do trabalho feminino e estar atenta e atuante nessas questões é mais do que uma causa, é autoproteção.

Se você pensa que “lugar de mulher é na cozinha”, a Livia pode te explicar melhor que: “lugar de mulher é em TODOS os espaços de uma cozinha”, inclusive num lugar de reconhecimento.

Livia é uma feminista de mão cheia.