Valéria

Valéria é uma cantora trans.

E ela faz questão de ser reconhecida assim, e não apenas como cantora. Para a Valéria, esse reconhecimento contribui com a visibilidade das pessoas trans, que ainda são extremamente marginalizadas pela na sociedade brasileira.

A militância por essa causa se tornou mais forte em 2015, depois de ter sido atacada na rua, em plena luz do dia, em Porto Alegre. Um homem se aproximou dela e do namorado e, enquanto ofendia os dois por simplesmente estarem na rua, ele tirou da mochila uma chave de fenda e a golpeou pelas costas.

A partir daí, a Valéria ganhou a consciência de que ela é uma voz que deve se fazer ouvir para além da música. Percebeu o quanto ela pode realizar em prol da comunidade trans.

O Projeto Transparecer é uma prova disso. A Valéria é colaboradora dessa iniciativa que oferece capacitação profissional para homens e mulheres trans em Porto Alegre. Capacitação essa que visa mudar o destino dessas pessoas, que são simplesmente ignoradas pelo mercado de trabalho.

Para a Valéria, a sociedade ainda não está preparada – e nem interessada – para lidar com as questões do universo das pessoas trans. Mas existem exceções.

Dentre as muitas histórias de segregação e preconceito, ela destaca uma que é marcada pela empatia. Quando ainda não tinha realizado sua retificação de nome na documentação, a Valéria passou por uma cirurgia de retirada do apêndice. No pós-operatório, ela foi levada para uma enfermaria masculina. Mas apesar dessa obrigatoriedade burocrática, a chefe de enfermagem que a acompanhou, isolou o leito dela para evitar olhares preconceituosos e perguntou por qual nome ela deveria ser chamada. Um gesto simples e humano que marcou para sempre a vida da cantora.

Na hora de responder qual é a sua maior conquista, a Valéria não tem dúvidas: estar viva. Quando a expectativa de vida de uma mulher trans no Brasil é de 35 anos, chegar aos 37 é uma conquista imensurável.

Valéria é feminista, artista, militante e é uma mulher.