Jéssica
NOVOS OLHARES: Paris
A recente mobilização feminista ensinou muitas coisas à Jéssica. Uma delas foi passar a chamar as coisas pelo nome certo. ‘Cantada’, não. Assédio. ‘Assassinato’, não. Feminicídio.
A união feminina também trouxe para a Jéssica a certeza de não estar só. O alívio de saber que situações machistas constrangedoras não acontecem só com ela, e mais, não são culpa dela. No lugar da palavra ‘sororidade’, a Jéssica prefere dizer que se sente parte de um ‘companheirismo’ entre mulheres.
Nascida na Guiana Francesa, a Jéssica é filha de mãe brasileira e cresceu em uma sociedade que ela chama de ‘matriarcal’. Isso porque lá muitas mulheres, ao engravidarem, são abandonadas pelos maridos e se tornam o alicerce da família. O que não é muito diferente da realidade brasileira.
Aos 18 anos, a Jéssica foi para Toulouse, na França, fazer faculdade. Na sua primeira experiência morando sozinha na Europa, ela conheceu o feminismo negro, ou como ela chama, o ‘afro-feminismo’. E foi aí que toda essa luta começou a fazer sentido de verdade.
Para a Jéssica, uma mulher negra vive todos os receios de ser mulher em uma sociedade machista, associados aos preconceitos que sofre por ser negra. Não há como fugir dessa leitura. E driblando esses obstáculos, a Jéssica se formou na faculdade, concluiu o mestrado e hoje, aos 27 anos, é professora em Paris.
Jéssica é uma feminista que carrega consigo a luta do feminismo negro.