CAROL SOLBERG: UM ALERTA PARA TODAS NÓS

Por Nathália Oliveira*

Uma atleta brasileira tem sua opinião política censurada. Isso deve ser um alerta para todas nós.

O caso de censura que envolve a jogadora de vôlei de praia, Carol Solberg, me faz tremer de indignação e de medo. Ontem, em julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva, cinco auditores homens votaram e decidiu-se por uma advertência com base no artigo 191, que diz: “deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de regulamento, geral ou especial, de competição.”

Esta decisão não impede que a atleta participe da próxima etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, mas impede sim que ela exerça a sua liberdade como atleta brasileira, mulher e cidadã. Nas palavras do presidente da Comissão que a julgou, Otacílio Araújo: “A medida educativa, pedagógica, eu acho que pode ser alcançada. Se ela futuramente repetir as expressões dentro de quadra de outra forma que não seja aquela direcionada ao esporte, ela pode ser punida com uma pena pior.”, fui só eu, ou vocês também entenderam isso como uma ameaça não só a Carol mas a qualquer atleta brasileira e brasileiro que se manifeste livremente?

Desde de que a manifestação da Carol Solberg ganhou os fóruns de debates das redes, muitos perfis lembraram que a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) que hoje pune a jogadora por gritar “Fora, Bolsonaro”, em 2018, defendeu a liberdade de expressão para os jogadores Wallace e Maurício que, durante o Mundial de Vôlei Masculino, posaram, em quadra, para fotos fazendo o número 17 com os dedos, em clara alusão ao então candidato à presidência. Em trecho de reportagem do blog Elas no Ataque, do Correio Braziliense: “Na época, a CBV (…) disse que ‘acredita na liberdade de expressão e, por isso, não se permite controlar as redes sociais pessoais dos atletas, componentes das comissões técnicas e funcionários da casa’”.

Em outra ótima reportagem do mesmo blog, a advogada Daniela Teixeira explica, com mais detalhes como funcionam os contratos de transmissões de eventos esportivos e punições previstas neles. O ponto a que quero chegar neste artigo é o quanto esta ação punitiva ou pedagógica deixa máculas na nossa democracia e interfere no exercício da livre expressão das mulheres brasileiras.

Se uma atleta com carreira consolidada, inúmeros títulos e uma trajetória reconhecida dentro do esporte nacional pode ser silenciada com essa facilidade, o que esperar para o resto de nós? Como fazer com que nossas vozes não sejam censuradas, tolhidas quando o que está sendo feito diante de nossos olhos é exatamente isso com uma mulher que é um ícone do esporte nacional? E pior: deixando claro que ela servirá de exemplo. Como as bruxas queimadas em fogueiras.

Antes de encerrar, preciso deixar registrado o que li pelas caixas de comentários deste vasto reino da internet que se Carol Solberg não concorda com o atual governo, que abandone seu patrocínio do Banco do Brasil.

Para informar os desinformados, primeiro: a Carol não recebe patrocínio do Banco do Brasil. A empresa estatal é patrocinadora da CBV, entidade que organiza a competição nacional e, por isso, a marca do banco está obrigatoriamente estampada nos uniformes. Segundo: ao ocupar o cargo da presidência de forma transitória, Jair Bolsonaro não se torna dono do Banco do Brasil. A instituição financeira tem 50% de suas ações nas mãos do Estado Brasileiro, que não é a mesma coisa que o mito, viu, gado querido? Essa confusão pode ficar perigosa se a gente não começar a diferenciar as coisas por aqui.

O último texto que publiquei neste blog não tinha um desfecho animador. Este também não terá. Estamos sendo sistematicamente silenciadas por este governo. Ou a gente começa a tremer de indignação agora ou, em breve, vamos começar a tremer de medo.

Nathália Oliveira vive de contar histórias e é a criadora deste projeto. @anath.oliveira