#OUTUBROROSA na sociedade que vê meus seios como uma ofensa

Por Nathália Oliveira*

Depois de falar sobre o câncer de mama de minha mãe e o sistema de saúde no texto da semana passada, venho usar a ocasião do #outubrorosa para tratar de outro tema que me inquieta: os seios femininos e a sociedade que os oprime.

Quando descobri o feminismo, em 2014, comecei a questionar a relação com o meu corpo. Se ele é livre ou não para circular pela cidade, se eu posso usar ele do jeito que eu quiser ou não e o quanto ele é julgado por mim e pelos outros. E a primeira mudança provocada por esse questionamento foi libertar o meu corpo do uso do sutiã, uma peça que incomoda a maioria das mulheres. Mas, claro, foi aos poucos.

No início, quando eu saía sem sutiã, era um esforço andar na rua e não ter a sensação de que todo mundo estava prestando a atenção nos meus peitos. Alguns machos sem noção realmente estavam, a outra parte, era minha autocensura inventando olhares. E eu só abria mão da peça quando ia para eventos informais, de diversão. Para trabalhar, nunca. Achava que não estaria de acordo com o ambiente de trabalho. Como se meus peitos (mesmo cobertos por blusa) fossem um impedimento para que eu ou meus colegas realizássemos nossas funções do dia-a-dia. Olha que maluquice!

Quando me mudei para a Espanha em 2017, levei duas malas grandes e pesadas e dentro delas, nenhum sutiã. Foi quando me libertei totalmente da peça. E parece incrível, né? Mas deixa eu te lembrar que homens, em ambientes como praia, piscina ou qualquer lugar onde faça calor, não só estão sem sutiã, como estão SEM CAMISA. Ou seja, a libertação do sutiã é só um pequeno passo em direção a igualdade de condições.

O Outubro Rosa é uma campanha de conscientização de mulheres sobre a importância de prestarem atenção aos próprios seios. Mas como fazer isso dentro de uma cultura que nos ensina que eles são uma ofensa para a sociedade? Que eles precisam ser disfarçados, escondidos ou hiperssexualizados? O câncer é uma doença séria, que mata milhares de mulheres todos os anos, ora, que matou a minha mãe! Mas tão sério quanto é o machismo que nos mata há séculos, que nos faz acreditar que nossos corpos são uma afronta ou motivo de vergonha. E eu me pergunto quando uma campanha dessa abrangência e aceitação social vai tratar deste aspecto que não chega a ser profundo, mas básico da saúde feminina. Fazer com que mulheres se atentem aos próprios seios passa por fazer com que elas os amem, que não sejam coagidas a escondê-los.

E no mais, sigo vivendo por aí feliz, sem sutiã, e respondendo para qualquer homem que me pergunta o porquê de eu não usar: “pelo mesmo motivo que você”.

Nathália Oliveira vive de contar histórias e é a criadora deste projeto.